quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um adeus, um início.


Quando cheguei e olhei para a estante, lembrei que antes de viajar havia prometido arrumar tudo aquilo. Na verdade, havia prometido isso antes, quando passasse para alguma universidade; assim feito, já deveria ter cumprido o prometido.
Papéis, papéis, papéis. Sabia que guardara muitos papéis, mas de fato, o montante foi muito além do que eu imaginava ter guardado. Fichário da oitava série, e junto dele muitas lembranças e indícios de uma personalidade adolescente já adormecida. Mas o que realmente contara na maioria significativa fora tudo o que eu escrevi, mesmo que fosse um rascunho qualquer, tudo o que eu li, tudo, enfim, tudo; todo o material utilizado, que eu havia tocado nos três últimos anos, os anos em que cursei o ensino médio, todos estavam ali. E agora, era a hora de eliminar tudo aquilo. Ou quase tudo.
A começar pelos exercícios de matemática. Foi triste me livrar de tudo aquilo. Por hora, sempre gostei de revê-los, e, por serem muitos, me faziam lembrar que eu não podia fechar o livro enquanto não acabasse o que eu tinha começado. É. Eu sempre gostei da matemática. Mas se foram; todos.
Quase tudo o que vi e joguei fora foi com certo aperto no coração, exceto certos pontos. 'Projeto Enem de literatura'... joguei com certo gosto, mesmo na incerteza de precisar daquilo. Mas de certo, não precisaria.
Também abri a ala para o material que será utilizado daqui pra frente. Selecionei o material de biologia, química, física e calculo. De certo me senti como se estivesse mudando de casa. Mas talvez fosse a mudança de vida, a mudança de fase. A real desvinculação entre a infância, adolescência e vida adulta, o passado e o futuro, o sonho e o objetivo.
Senti que somente eu poderia ter assassinado em média de dez a quinze árvores, de tanto papel que havia usado. Mas ao ver aquilo, ler certas coisas, algumas contracapas de fichário e caderno, certos rodapés de folhas, me remeteram há muitas lembranças. Pessoas que passaram, pessoas que ficaram, piadas internas da época, coisas que me fizeram rir, me emocionar, coisas que me fizeram ser feliz. Tudo aquilo resumido em fragmentos de sentimentos, transpostos no papel. Isso, mais forte do que eu, foi guardado. Me desconectei apenas daquilo que acabou, período escolar. As lembranças e os que fizeram com que as mesmas existissem ainda estão comigo; não quebrei esse vínculo no sentido material; o mesmo vínculo psicológico foi o que me fez feliz durante muito tempo.

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